Friday, April 27, 2007

Comunistas

Neste cantinho do cantinho que é Portugal existem muitos comunistas. A maior parte deles filiados no PCP. A maior parte deles velhos. A maior parte deles acha que o comunismo é um sistema bom que acaba com os ricos, mesmo que não acabe com os pobres. Mas acabar com os ricos porquê? Porque no seu entendimento só há ricos à custa da exploração dos pobres. E é preferível um mundo de pobres que não são explorados por ricos, do que um mundo de ricos que vivem do trabalho dos pobres. Este é o comunismo ingénuo e bondoso. Bondoso e violento. É necessário violentar os ricos para que os pobres sejam menos pobres e vivam melhor.
Mas também existem, neste mesmo pedaço de terra, outros comunistas mais espertos, menos ingénuos e, indiscutivelmente, menos bondosos. Quer dizer, manifestam apreciável bondade para com os seus interesses pessoais, para com os seus amigalhaços e para com todos os que lhes permitam aceder ou manter no poder. Sobretudo o poder autárquico, mãe de outros poderes e cargos que lhe saem das tetas. Estes comunistas são mais jovens e feitos de uma massa evolutiva que vai da 4L ao jipe, do bagaço ao whisky velho, de Armação de Pêra à casa em Vilamoura ou no Brasil. São comunistas em trânsito para outra coisa qualquer, tanto que muitos também já vieram de uma coisa qualquer até chegarem ao ponto em que deu jeito ser "comunista".
Estes comunistas alentejanos ou emprestados ao Alentejo não são de esquerda, e muito menos da esquerda mais extrema. São sanguessugas infectas que se alimentam do imaginário de luta e de valentia dos comunistas ignorantes, bondosos e violentos.
O comunismo alentejano pariu uns filhos da puta da pior espécie que sujaram tudo por onde puseram as patas. Os velhos comunistas continuam a ouvi-los em bocejo, mas no dia do voto é fatal como o destino. Existe a certeza de que a direita é muito pior. Pior, mas não muito pior.
A esquerda-extrema não enjeita o legado teórico do comunismo, dos comunismos, e de algumas práticas socialistas enlaçadas com a democracia basista e participativa, mas cospe nestas criaturinhas rastejantes que engordam nos seus gabinetes de pulhices e "esquemas".

Wednesday, April 25, 2007

Revolução (e fado)

Outra palavra sepultada no cemitério do aburguesamento colectivo. Parece uma fatalidade filha da mãe esta de se ser destemido revolucionário aos 20, burguês tolo aos 30, e empenhado reaccionário aos 40. Manter ao longo da vida, independentemente das vicissitudes daquela, uma pulsão revolucionária e "extremista" (não há que temer o termo) não será condição de eleição e excepção, mas não é certamente muito comum. O capitalismo insidioso que nos invade a toda a hora e a sua bela montra de compensações e anestesiantes, sedativos e excitantes, testam a resistência e a autenticidade de quem tem a revolução como horizonte de luta e de conquista.
Há muitas revoluções, é verdade, e de natureza e alcance contraditórios. Mas, qualquer que seja o seu sentido, um "espírito" revolucionário, que cultiva a radicalidade transformadora da sociedade e de si próprio, que se insubordina face às ordens de conformismo ou de resignação ao status quo, é, só por isso, mais digno de respeito do que a mola amorfa e instalada nas suas posiçõezinhas adquiridas, a autogovernar o seu poderzinho concentrado na carteira, no "nome" ou nos "conhecimentos", a esperar os dias de feição porque o tempo é previsível e aos dias maus ou mais ou menos sucedem sempre dias melhores. Dormentes no seu fado de felicidade de cão de engorda.

Monday, April 23, 2007

A ideologia

As grandes narrativas da legitimação afundaram-se com o colapso do socialismo real, com a hegemonia cultural do liberalismo democrático e com a sua capacidade em promover a desideologização ou o esvaziamento ideológico, de forma a que o debate sobre a macro e metapolítica acontecem num paradigma mental de tal maneira assimilado e dominador que se torna impossível tomar os seus fundamentos como objecto de discussão teórica pertinente. E, assim, a reconfiguração da democracia liberal, seja pela sua radicalização participativa, seja pela sua substancialização axiológica (a tal questão dos valores essenciais), quase que se confina à tertúlia alternativa e exótica.
Banida a ideologia como substracto da esfera política, sucedeu a ela um derivado da real politik: o tacticismo.
Morta a discussão ideológica, e temida a sua ressurreição, os actores políticos investem diferenciação nas opções tácticas, apesar de as filiarem, por necessidade identificativa, de pertença (existe um património cuja negação seria uma má táctica...) no que orgulhosamente apelidam de matriz ideológica.
Os congressos partidários discutem tácticas (internas e externas, estratégicas ou timidamente programáticas), mas há muito que deixaram de discutir ideologias.
Contudo, quando certas "tácticas" político-partidárias "não autorizadas" ganham o efeito lateral, ou porventura perverso, de pôr em causa a ideologia que permite a livre produção e circulação das diferentes tácticas (seja no âmbito associativo, seja no âmbito institucional-Estatal), um dado novo é posto em cima da mesa, mesmo que não tenha sido de propósito: quais os limites ideológicos (e posterior tradução legal e normativa) da ideologia que nos "governa"?
A extrema-direita anti-democrática e anti-liberal é portadora deste factor de "perturbação" que trará a prazo uma consequência incontornável: condicionará os partidos, todos, a serem menos tacticistas e mais "ideológicos". É que começa a estar em causa (também por especial culpa própria) o seu papel e estatuto.

Saturday, April 21, 2007

As modas

Os blogues ganharam novas funcionalidades e perderam de vista a sua matriz originária: produzir pensamento e opiniões, ser expressão autoral de sensibilidades políticas, artísticas, sociais, ideológicas. Hoje, se pularmos de blogue em blogue, observamos que eles se copiam uns aos outros, citam-se entre si, e remetem para o que eles demarcam e apropriam como território exclusivo, e perderam força diferenciadora. Mesmizaram-se e reproduzem a mesma solução de que padecem os media: cederam ao "espectacular", ao imediato, ao sensacional, aos sound-bytes impressivos, à fotogenia.

Como é sabido, nem sempre as mudanças trazem boas novidades. Do mesmo modo que nem sempre deixar tudo como estava no início é sinal de vitalidade e de excelência. Mas nisto dos blogues, as transformações foram pelo caminho da lógica "comercial". Em vez de audiências e tiragens, os bloguistas ficaram reféns do mesmo frenesim "consumista", neste caso, do número de visitas e da quantidade de comentários, e isso empobreceu-os inevitavelmente, e talvez "inconscientemente". Jogaram na facilidade e na rapidez, numa disputa onde a aceleração e a instantaneidade marcam o "top".

Com prejuízo da assimilação, da ponderação e da singularidade.

Parece que neste caso, a esquerda extrema cola-se à recuperação do "clássico".

O ponto da escala

Não haverá citações
Não haverá links
Não haverá fotos, ilustrações e videos decorativos, autorizados ou roubados
Não haverá remissões para blogs, jornais, revistas
Não haverá listas de amiguinhos, nem filiações em irmandades
Não haverá lirismos ignóbeis de mesa-de-cabeceira
Não haverá mariquices de design e muito menos excrescências publicitárias
Não haverá patetices de contadores, inventários, espionagem, localização de visitantes, etc.

Não será esse o caminho. E começa-se sempre pelo que uma coisa não é. Para que ninguém venha cá enganado.