Sunday, May 27, 2007

as festinhas na cidade

Estive nas festas da cidade de Beja, ou melhor, estive nas festinhas e carícias que o PCP fez à cidade de Beja. Havia povo, mas não chegou a haver povão. As tasquinhas eram deprimentes. Os espectáculos foram abaixo de cão. Dizem que se escapou o fogo de artifício.
Eu fui com expectativas em relação ao grupo cubano. Mas que barrete! Uma banda de covers, tudo ao molho e fé em Deus.
Num dia ou dois antes já tinha o presidente da autarquia em pose familar e acolhedora no meio da praça, a distribuir sorrisos e acenos. Faz parte da condição, não é?
Tudo muito cinzento e apagado, sem ânimo e sem garra. À semelhança dos seus protagonistas. É pena, mais uma vez.

Wednesday, May 16, 2007

subsídio à procriação

"Quem faz um filho, fá-lo por gosto". Sim, devia ser assim. Mas também não chega. Quem faz um filho tem também de fazer contas antecipadamente, não vá dar o gosto em desgosto. Ora aqui no Alentejo parece que o pessoal não gosta muito de fazer filhos, ou faz mal as contas, ou faz bem as contas e o resultado só podia dar em desgosto. Para além disso, por muito que se goste de fazer filhos, são cada vez menos os que estão em idade útil de procriar, o que nenhum dinheiro do mundo pode inverter.
Como tal, para fazer face a esta tendência esterilizante e desertificadora, alguns autarcas alentejanos, não podendo produzir mulheres parideiras, nem estancar a fuga dos jovens para outras paragens, resolveram tornar as contas dos futuros e potenciais pais menos catastróficas e migalhar (ou subsidiar) as custas dos bebés.
Começa à nascença o endividamento (neste caso, moral) das novas gerações de alentejanos. Aos bebés proveta, in-vitro e tal, sucederá no Alentejo o bebé "rendimento mínimo". E se o montante subir, logo se cantará: "Quem faz um filho, fá-lo por troco"...

Wednesday, May 9, 2007

canicídio!

Na cidade de Beja, a Câmara Municipal, funcionários do canil e veterinaria municipal, tratam os cães abandonados entretanto recolhidos, como ratos de esgoto que urge abater sem dó nem piedade.
Esta Câmara de bárbara insensibilidade "despacha" os cães "a mais" da forma mais grotesca e paleolítica, encomendando o "serviço" a uma veterinária infame, munida de luvas de aço e dispara agulhas, nem sempre certeiras, no coração dos animais, prostrando-os a um inútil e desumano sofrimento.
Não há nenhuma estratégia para colocar os animais noutros paradeiros de melhor acolhimento, ou de promoção dos animais residentes de forma a captar potenciais donos.
É uma tristeza, é uma vergonha. É o que as pessoas têm de pior. É o que os políticos têm de mais abominável.
A abater!

Monday, May 7, 2007

Jardins de merda

O palhaço da governação mais palhaço que existe voltou a gastar-nos dinheiro para nos convencer que umas novas eleições regionais justificariam o gasto só porque ele, o palhaço, viu a teta da República, que ele tem esbanjado há décadas, mais estreita de leite.
Enquanto um bandalho lunático, que devia viver fortemente medicado enfiado numa camisa de forças, continuar a fazer de uma parcela de Portugal, o circo das suas traquinices de mentecapto, e o recreio dos despojos do Estado em versão clientelar, este país medirá forças com a Guiné Bissau no anedotário da política. Aquele povinho alegre e tolo que fala de uma maneira esquisita também ajuda à festa.

Wednesday, May 2, 2007

Ovicracia

Quando a auto-estima colectiva de uma cidade inteira se decide no chamamento do cartaz dos espectáculos de uma feira agrícola com inusitada componente beberrona, isso ilustra bem o seu sub-desenvolvimento e provincianismo. A Ovibeja começou por ser uma feirinha de criadores de ovelhas, vacas e porcos. Um punhado de agrários da bota caneleira faziam a festa, fumavam os seus charutos e bebiam o seu whisky, e as suas esposas pintadas de loiro bocejavam ou passeavam-se com a botinha alta da equitação. Tudo bem. Era a festa deles. O povo ia como vai a todas as feiras, fica a ver e passa. Com o passar dos anos, os betinhos e queques filhos dos agrários criadores de gado, resolveram espalhar pelo espaço as suas tasquinhas com a música deles: sevilhanas e rádio comercial. E bebiam até ao vómito. Tudo bem. Era a festa dos pais agricultores e dos filhos e primos que vinham de Cascais e do Estoril para beber uns copos na parvónia.
Mas o povo queria também a festa para ele. Afinal, o povo dava enchimento à feira. Era justo. E se o povo dava enchimento, as autoridades e instituições locais também queriam estar, não fosse o povo dar pela sua falta. Era justo. E para contentamento do povo, os "programadores" da feira têm vindo, ano após ano, a oferecer um cartaz de "carrinhos de choque": bem popularucho. À excepção de uma "noite" condescendentemente "alternativa" que fica sempre às moscas, pois claro.
A Ovibeja está longe de ser uma montra do mundo rural alentejano, esse é outro mundo, feito de abandono, de operários agrícolas velhos e cansados, de deserto, de arame farpado dos novos coutos a rasgarem a memória de quem cresceu sem cercas no horizonte.
A Ovibeja é a celebração colectiva de um ritual de alienação: nessa semaninha o mundo pára e o circo comanda a vida. E o povo, de fato domingueiro posto, anda contente, lado a lado com as tias e os tios, quase a beberem do mesmo copo, numa desarmante harmonia de classes... A Ovibeja é a maior festa democrática do sul. O povo não piquenicou no 1º de Maio, mas foi à feira mais uma vez. O povo já não tem mais nada para comemorar. E tristezas não pagam divídas. Vai mais um copo!